quarta-feira, 27 de maio de 2009

Boêmia

O Começo

A minha passagem pela Lapa foi no final dos anos 70, freqüentava muito o Carrossel, e outras boite’s que não me lembro mais dos nomes, ali no largo da Praça João Pessoa. Costumava jantar as vezes na madruga no Restaurante Nova Capela, quase sempre tinha 4 mesas ocupadas com uma pessoa cada, os preços eram maravilhosos, não doía tanto, já se falava nesta época no Cabrito Assado que não provei até hoje. Muita vezes no intuito de passar o tempo, até ter condução, ficava até o amanhecer o dia, saía às sete da manhã. Outro lugar que eu gostava muito de beber era um Pé Sujo que ficava ou fica colado no Ernesto na Rua da Lapa em frente a uma banca de jornal, se estivesse acompanhado ia na Adega Flor de Coimbra. Já nos tempo da “Lucinha”, chegamos a freqüentar o Capela nas madrugadas, isso entre 1983 e 1988, o Capela passava a madrugada quase toda vazio, as vezes com dois ou três fregueses, pelo menos no tempo que eu jantava, jantava sempre arroz de bacalhau com brócolis uma delícia, numa dessas noitadas participamos de uma festa de casamento em plena madrugada, um Português já de uma certa idade com uma mulatinha novinha, só estavam no salão eu, Lucinha e o casal de noivos e os garçons, fomos convidados para o blinde na mesa deles quando fomos ver hora era 7 horas da manhã de uma Quinta-feira ensolarada de verão. O meu batismo mesmo na noite foi em 1976 na Boite Chicken Hause na Rua Miguel Couto foi aí que comecei a gostar da boêmia, tinha uma cantora espetacular, que dava um show, até então nunca tinha assistido a um show de musica ao vivo, fiquei fascinado pela interpretação dos cantores na penumbra, aquele som melodioso, a fumaça dos cigarros e a movimentação das garçonetes e os casais dançando parecia um conto do João Antonio. Daí comecei a freqüentar Chicken o Luanda que ficava na Dois de Abril quase chegando no Campo de Santana, ara mais observador, nesta época devia estar 19 anos quem me levou á freqüentar a noite nesta época foi o pessoal da E. E. empresa que trabalhava no Engenho Novo (meu 1º emprego), daí pra diante não parei mais. O único lugar que não freqüentei até hoje é a Praça Mauá, não sei porque mais não me atrai, fui uma vez no Mister John que ficava onde hoje fica o prédio Praça Mauá nº 1 fui por curiosidade, tinha um ar parecido com um Bordel em decadência, um verdadeiro fim de festa, vinte e cinco anos depois fui ao Florida, o que não me atrai neste tipo de ambiente é o estilo Americano, as musicas, os espelhos, aquelas luzes giratórias, fica tudo meio cansativo isso não boêmia se enquadra mais como farra.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

AMIGO E IRMÃO


Sandália

Natal de 1985, se não me falhe a memória, nesta época ainda era gerente do Tangara o Jorge, boa figura tinha aparência de Português mais não tinha sotaque, nesta época o caixa era fora do balcão aonde se vendia cigarro e outras quinquilharia de bolso, e o pagamento era sempre adiantado “ficha no caixa” para os desconhecidos e alguns conhecidos volteiros, me lembro muito bem que Almir Guineto só bebia com pagamento adiantado, “ficha no caixa”, foi nesta época que conheci “Paulinho Sandália” grande figura, Artesão de primeira, até hoje ainda uso sandálias feita pelo Paulinho que ninguém sabia como era feita, pos Paulinho vivia mas na Cinelândia, a qualquer hora do dia se encontrava o Sandália nos Botecos, dizem alguns amigos que ele confeccionava a sandálias numa praça em Botafogo durante a manhã e na hora do almoço rumava pro Karlitos com um par só, incompleto como amostra para venda, Karlitos era o rival do Tangará ficava no outro estremo da quadra em frente ao Café Teatro Rival, foi também por esta época que o Tangará perdeu a maioria dos fregueses pro Karlitos, houve uma mudança nos funcionários, foi aí que os Cearense começaram a tomar conta da área, nesse tempo, como empregados (Balconistas). Essa turma que entrou para o Tangará era tudo marrento, pro causa e efeito da situação que a maioria dos fregueses se afastaram, mais o ponto era tão bom que apareceram clientes novos, eu continuei fiel a Moringuinha (água ardente), a do Karlitos era uma merda, até antes de fechar continuava com aquele gosto de telha molha de chuva, as batidas não chegavam nem perto das do Tangará o gengibre deles nunca chegava no ponto de equilíbrio Cachaça/Gengibre realçava mais o gosto do gengibre forte pra caramba o Chopp quase sempre era batizado igual o do Amarelinho, mais ganhava no atendimento, tinha um Coroa que não guardei o nome que se esforçava pra atender bem os freqüentadores mais - engraçado bebia sempre no Tangará - a qualidade ficava a desejar.

Tem muita gente que encontro que até hoje que não acredita que o Sandália morreu, morreu em Novembro de 2006 na casa da mãe dele em Botafogo se não me engano no dia 14 segundo a mãe se entregou a branquinha aquela garrafinha bujudinha que vende em super mercado, depois de diversas internações, uma das vezes apareceu na Cinelândia fugido do Hospital todo amarrado de gaze, deu pena de ver o amigo naquela situação mais o que se podia fazer a não lamentar. Sandália era uma figura, conhecia todo mundo parecia que o rio era pequeno para ele, de político a vagabundo andava o Rio todo, aonde o convidassem estava presente, fosse Zona Sul, Subúrbio ou Baixada não tinha tempo ruim, lá estava o Sandália com aquele jeito despreocupado cambaleante, voz mansa sorriso debochado, sempre com a mão na altura da boca ou virando uma ou escondendo a risada que era constante, as vezes doidão, uma vez ele me contou que foi quase assaltado no caminho do Canecão para Rua da Passagem onde ele morava, estava doidão de madrugada, disse que o cara que tentou o assalto vendo a situação ainda pagou uma no bar mais próximo mais o curioso foi quando ele chegou em casa e contou pra mãe dele que tinha sido assaltado “Paulo meu filho quem é que vai te assaltar na condição que você vive. O Sandália tinha um negocio andava impecavelmente bem vestido ganhava muita roupa dos amigos que cultivava, as vezes encontrava um amigo e o cara de gozação falava “pó Sandália ta todo de fulano hoje ou está fulano/beltrano”, isso quando ele estava com calça de um e camisa de outro, até hoje eu fico sem entender como é que um cara como o Paulinho se entregou da maneira que ele se entregou, ainda dava pra ele viver uns dez anos tranqüilo, vendendo sandália e bebericando pela vida, eu acho que agravou a situação do Sandália era a alimentação o cara vivia o tempo todo na rua, quase sempre sem dinheiro, como é comia eu mesmo muitas vezes pagava um feijão amigo no Tangará, almoço no antigo “Quarenta” (na Senador Dantas), me lembrei hoje do Sandália porque mexendo em uma mala antiga da minha ultima mudança encontrei uma bolsa, da minha última companheira e tinha uma sandália de mulher dentro, essa sandália foi comprada do Paulinho em 1996 ele só me entregou no começo de 2000 mesmo assim por que eu tomei na marra, Sandália tinha isso, recebia e só entrega anos depois, vi muita briga do Paulinho com nego que tinha comprado e não recebido, as vezes quase chegando a porrada, mas o cara com aquele jeito despreocupado cambaleante resolvia tudo e vendia mais uma sandália para o próximo encontro acompanhado de mais uma rodada do que se estivesse bebendo no momento, o cara tinha um jeito de convencimento que dobrava qualquer um, até os mais exaltados, com esse jeito conquistou uma consideração que nenhuma pessoa conseguiria.
Salve Sandália

sábado, 23 de maio de 2009

SAUDADE INGRATA

Amor Mundano

Entre princípio de 1980 a 1983 tive um hiato na freqüência diária no saudoso Tangará, foi quando estive no sul da Bahia a trabalho, só estive no Rio neste período para votar em Brizola fiz questão de está presente e cumprir com o meu dever cívico de cidadão. Se não me falha a memória em março de 1983 retornei ao convívio diário da corriola (não sei se esse e termo) dos amigos notívagos. Cheguei numa madrugada de domingo para segunda não sei precisar exatamente a data, só me lembro quando despontei na inicio da ponte e senti uma sensação de ter voltado sem nunca ter deixado esta cidade maravilhoso que é o Rio de Janeiro, as luzes todas acessas dá uma sensação de conforto de ter voltado ao principio de tudo como se fosse uma re-descorta do sentido de todas as coisas, uma volta ao mundo real, são 14 km de satisfação quando se está voltando de um período de ausência, mesmo se for um ano, parece uma eternidade está fora do convívio deste mundo mágico que é o Rio “Cidade da beleza e cals”. Logo no primeiro Sábado conheci num bordel de Madureira (esse bordel funciona no primeiro shopping de Madureira) se não me engano foi a primeira terma do subúrbio “Termas Madureira” funcionava no terceiro piso, foi por essa época que surgiu o pagode do Wellington, funcionava numa pensão na Dagmar da Fonseca quase em frente ao “Madureira 1 e 2” cinemas que por muito tempo foi referencia em Madureira.

“Ai que saudades eu tenho dos meus 20 anos”.
“Ai que saudade ingrata”.

Era uma Sábado de Março eu e meu amigo Clodô fomos como de hábito, almoçar no Avatar na Domingos Lopes ou Maria Freitas (Avatar foi onde nasceu o bloco das Piranhas e Banda de Madureira) tinha um frango a Espanhola maravilhoso. O Avatar “Foi um rio que passou em minha / vida e meu coração se deixou levar”, nessa época a rapaziada de Guadalupe se encontrava aos sábados ou no Imperial (na Estrada da Portela) ou no Avatar, eu sempre dava preferência ao Avatar, o Imperial nesta época já estava em decadência mais tinha uma varanda apreciável do ponto de vista do mulherio, eram tarde memoráveis, na época se media o consumo de Cerveja por hora “5 horas de cervejas” ( porra eu fico bolado com esses traçinhos vermelho do Corretor Ortográfico em baixo das palavras da à impressão que estou escrevendo tudo errado, mas como não tenho a pretensão de ser escritor deixo passar).
Foi neste bordel que conheci Lucia “Lucinha” foi uma atração à primeira vista, nesta mesma noite saímos fomos dormir no “Lamour” na Avenida Brasil na época era um dos melhores Motéis da redondeza, Lucinha como pude observar com convivência era uma criatura que naquela época estava prostituta, ainda não era uma prostituta formada, tinha dois filhos dependentes de tudo, um ex-marido ausente, a partir daí começamos uma convivência freqüente sem vinculo empregatício, não era cliente nem dono! era apenas parceiro sexual nos fins de semana, ela morava na Rua São Jenuário logo no inicio sentido Cancela Barreira do Vasco, era oriunda (que palavra mais filha da puta esta) da Gloria, este convívio durou uns 6 meses até que ela se transferiu para uma Terma Maior (no Méier), acho que aí ela se tornou de vez prostituta deixou de estar para ser, foi por esta época que começamos aos sábados a freqüentar o Sovaco de Cobra na Teodoro da Silva, porra às vezes parece mentira mais andávamos de onde hoje é Iguatemi até o Centro de madrugada na maior tranqüilidade do mundo, bebendo cerveja a onde estivesse um bar aberto.

“Em qualquer esquina eu paro
Em qualquer botequim eu entro”

Lucinha era Paraense de Belém meio acaboclada com um corpo escultural, boa de onda, não era burra apesar da condição de vida que ela escolheu tinha bom gosto, jogo de cintura, com o passar dos tempos deixou de ser prostituta e foi ser garçonete no mercado das flores e depois Canecão e no final Rival aonde nos re-encontramos, morreu de morte matada em Maio de 1993.

“Saudades meu bem saudades
Saudades do meu amor
Ela foi embora e nunca mais voltou”