domingo, 24 de outubro de 2010

21 Anos depos!

Difícil, imaginar outra eleição como a de 1989. Foi este o sentimento que embalou a primeira campanha presidencial depois de 29 anos sem eleição direta para presidente. Uma geração inteira experimentou o sabor de empunhar a bandeira do seu candidato, de gritar no comício no centro da cidade e depois discutir política bebendo um chope gelado no saudoso Tangará onde se reunia tanto Brizolistas em maioria como Petistas, ainda na existia o “Lulismo”, se reunia um grupo de amigos, muitos hoje mortos, numa discussão acalorada.
Foi a primeira eleição com o voto dos analfabetos em um país integrado por uma indústria cultural (235 emissoras, cinco redes nacionais, 25 milhões de aparelhos receptores, 94% de audiência potencial). 47% dos eleitores não tinham 30 anos, nunca haviam votado e tinham grande intimidade com a linguagem televisiva. O perfil do eleitor de Collor coincide com dos tipos mais suscetíveis à influência da mídia (baixa renda, baixa escolaridade, área rural, acesso à informação via TV, etc).
Fernando Collor (PRN) era o governador de Alagoas. Apareceu dizendo que acabaria com os marajás, que era o candidato dos descamisados, que isso e que aquilo. Ancorado numa campanha milionária, virou fenômeno eleitoral. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Leonel Brizola (PDT) se engalfinharam na briga pela outra vaga no segundo turno. Brizola ignorou São Paulo, o maior eleitorado brasileiro, e apostou tudo no Rio e no Rio Grande do Sul, onde fez quase 80% dos votos. Em São Paulo, fez 2%. Lula teve resultados medianos em todo o país e venceu. Nenhum analista arriscaria, meses antes, os candidatos da reta final: Collor e Lula.
Nas novelas como Vale Tudo (16/5/88 a 7/1/89); O Salvador da Pátria (9/1 a 12/8/89); e Que rei sou eu? (13/2 a 16/9) com reprise a partir de 23/10; portanto às vésperas da eleição. TV Globo, os exploradores são os políticos e não os empresários; o Estado (ineficiente e corrupto) é o culpado da situação da imoralidade nacional e não o mercado ou o capitalismo. É bem verdade, no entanto, que havia, entre os intelectuais de esquerda, um grande
desejo político de que o tema dominante das eleições na fosse a corrupção ou a inflação, e sim a privatização de parte do Estado. Por outro lado, o que estava em jogo na disputa discursiva é justamente qual a questão central do cenário político; e o que se observava é que as novelas ajudam a agendar a idéia de que a corrupção era o grande problema nacional e de que a moralização e a diminuição do Estado são as respostas adequadas para sua solução.

“Brizola sempre esteve ligeiramente à frente de Lula (na verdade, em empate técnico ), com a bandeira da educação que transformaria o ensino fundamental, e só sendo ultrapassado no início de novembro, já no fim da campanha. Tal fato deu margem a denúncias do PDT de fraude pró-Lula (manipulação de dados pelos Institutos de pesquisas) para beneficiar Collor, uma vez que o petista seria um adversário mais fácil de derrotar. No 2o turno, Cenário de Representação da Política se tornou mais ideológico, com Collor atacando diretamente o posicionamento político de Lula e ao mesmo tempose fazendo de vítima de agressões forjadas. E, mais uma vez, teve o apoio do conjunto da mídia impressa e televisiva. As pesquisas de opinião, no entanto, mostram a subida de Lula e a queda de Collor até o dia 12/12, até o Episódio Miriam Cordeiro, quando então Lula cai um ponto e Collor sobe outro”.

Na disputa entre os dois, no segundo turno o horário gratuito mostrou que os comícios viraram acessórios. O palco, agora, era a TV. Graças aos programas, o PT encostou em Collor nas pesquisas. A cada dia, um novo lance. Lula reuniu um número impressionante de artistas para cantar o “Lula-Lá”. Parecia uma jogada fulminante ver Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil pedindo votos. No dia seguinte, a resposta de Collor: juntou pedreiros, padeiros, mecânicos, operários e pôs todos a cantar. Em vez do nome, o rosto na tela era identificado como “um brasileiro”.

No final, quando as pesquisas mostravam o crescimento da candidatura Lula, Collor levou Mirian Cordeiro, ex-namorada do petista, à TV. Ela acusou Lula de pressioná-la a fazer aborto quando engravidou de Lurian, na década de 70. No dia seguinte, Lula apareceu chorando no horário eleitoral, abraçado à filha em questão. Depois, veio o último debate na TV. Visivelmente acossado, Lula saiu-se mal.

Enfim, a primeira eleição direta ficou para historia.


Candidatos à presidência da República em 1989: Fernando Collor de Mello (PRN / PSC), Luiz Inácio Lula da Silva (PT / PSB / PC do B), Leonel de Moura Brizola (PDT), Mário Covas Junior (PSDB), Paulo Salim Maluf (PDS), Guilherme Afif Domingos (PL /PDC), Ulysses Guimarães (PMDB), Roberto Freire (PCB), Aureliano Chaves (PFL), Ronaldo Caiado (PSD), Affonso Camargo (PTB), Enéas Carneiro (Prona), José Alcides Marronzinho de Oliveira (PSP), Paulo Gontijo, Zamir José Teixeira, Lívia Maria (PN), Eudes Mattar (PLP), Fernando Gabeira (PV), Celso Brant (PMN), Antônio Pedreira (PPB) e Manuel Horta (PDC do B)

Candidaturas anuladas: Armando Correia (PMB) e Sílvio Santos (PMB)


Resultado da eleição para presidente da República:
Primeiro Turno:
1º lugar - Fernando Collor de Mello (PRN / PSC) - 20.607.936 votos
2º lugar - Luiz Inácio Lula da Silva (PT / PSB / PC do B) - 11.619.816 votos
3º lugar - Leonel de Moura Brizola (PDT) - 11.166.016 votos
4º lugar - Mário Covas Junior (PSDB) - 7.786.939 votos
5º lugar - Paulo Salim Maluf (PDS) - 5.986.012 votos
6º lugar - Guilherme Afif Domingos (PL /PDC) - 3.271.986 votos
7º lugar - Ulysses Guimarães (PMDB) - 3.204.853 votos
9º lugar - Roberto Freire (PCB) - 768.803 votos
10º lugar - Aureliano Chaves (PFL) - 600.730 votos
11º lugar - Ronaldo Caiado (PSD) - 488.872 votos
12º lugar - Affonso Camargo (PTB) - 379.262 votos
13º lugar - Enéas Carneiro (Prona) - 360.574 votos
14º lugar - José Alcides Marronzinho de Oliveira (PSP) - 238.379 votos
15º lugar - Paulo Gontijo (PP) - 198.708 votos
16º lugar - Zamir José Teixeira (PCN) - 187.160 votos
17º lugar - Lívia Maria (PN) - 179.896 votos
18º lugar - Eudes Mattar (PLP) - 162.336 votos
19º lugar - Fernando Gabeira (PV) - 125.785 votos
20º lugar - Celso Brant (PMN) - 109.894 votos
21º lugar - Antônio Pedreira (PPB) - 86.100 votos
22º lugar - Manuel Horta (PDC do B) - 83.280 votos

Segundo Turno:
1º lugar - Fernando Collor de Mello (PRN / PSC)
2º lugar - Luiz Inácio Lula da Silva (PT / PSB / PC do B)