segunda-feira, 25 de maio de 2009

AMIGO E IRMÃO


Sandália

Natal de 1985, se não me falhe a memória, nesta época ainda era gerente do Tangara o Jorge, boa figura tinha aparência de Português mais não tinha sotaque, nesta época o caixa era fora do balcão aonde se vendia cigarro e outras quinquilharia de bolso, e o pagamento era sempre adiantado “ficha no caixa” para os desconhecidos e alguns conhecidos volteiros, me lembro muito bem que Almir Guineto só bebia com pagamento adiantado, “ficha no caixa”, foi nesta época que conheci “Paulinho Sandália” grande figura, Artesão de primeira, até hoje ainda uso sandálias feita pelo Paulinho que ninguém sabia como era feita, pos Paulinho vivia mas na Cinelândia, a qualquer hora do dia se encontrava o Sandália nos Botecos, dizem alguns amigos que ele confeccionava a sandálias numa praça em Botafogo durante a manhã e na hora do almoço rumava pro Karlitos com um par só, incompleto como amostra para venda, Karlitos era o rival do Tangará ficava no outro estremo da quadra em frente ao Café Teatro Rival, foi também por esta época que o Tangará perdeu a maioria dos fregueses pro Karlitos, houve uma mudança nos funcionários, foi aí que os Cearense começaram a tomar conta da área, nesse tempo, como empregados (Balconistas). Essa turma que entrou para o Tangará era tudo marrento, pro causa e efeito da situação que a maioria dos fregueses se afastaram, mais o ponto era tão bom que apareceram clientes novos, eu continuei fiel a Moringuinha (água ardente), a do Karlitos era uma merda, até antes de fechar continuava com aquele gosto de telha molha de chuva, as batidas não chegavam nem perto das do Tangará o gengibre deles nunca chegava no ponto de equilíbrio Cachaça/Gengibre realçava mais o gosto do gengibre forte pra caramba o Chopp quase sempre era batizado igual o do Amarelinho, mais ganhava no atendimento, tinha um Coroa que não guardei o nome que se esforçava pra atender bem os freqüentadores mais - engraçado bebia sempre no Tangará - a qualidade ficava a desejar.

Tem muita gente que encontro que até hoje que não acredita que o Sandália morreu, morreu em Novembro de 2006 na casa da mãe dele em Botafogo se não me engano no dia 14 segundo a mãe se entregou a branquinha aquela garrafinha bujudinha que vende em super mercado, depois de diversas internações, uma das vezes apareceu na Cinelândia fugido do Hospital todo amarrado de gaze, deu pena de ver o amigo naquela situação mais o que se podia fazer a não lamentar. Sandália era uma figura, conhecia todo mundo parecia que o rio era pequeno para ele, de político a vagabundo andava o Rio todo, aonde o convidassem estava presente, fosse Zona Sul, Subúrbio ou Baixada não tinha tempo ruim, lá estava o Sandália com aquele jeito despreocupado cambaleante, voz mansa sorriso debochado, sempre com a mão na altura da boca ou virando uma ou escondendo a risada que era constante, as vezes doidão, uma vez ele me contou que foi quase assaltado no caminho do Canecão para Rua da Passagem onde ele morava, estava doidão de madrugada, disse que o cara que tentou o assalto vendo a situação ainda pagou uma no bar mais próximo mais o curioso foi quando ele chegou em casa e contou pra mãe dele que tinha sido assaltado “Paulo meu filho quem é que vai te assaltar na condição que você vive. O Sandália tinha um negocio andava impecavelmente bem vestido ganhava muita roupa dos amigos que cultivava, as vezes encontrava um amigo e o cara de gozação falava “pó Sandália ta todo de fulano hoje ou está fulano/beltrano”, isso quando ele estava com calça de um e camisa de outro, até hoje eu fico sem entender como é que um cara como o Paulinho se entregou da maneira que ele se entregou, ainda dava pra ele viver uns dez anos tranqüilo, vendendo sandália e bebericando pela vida, eu acho que agravou a situação do Sandália era a alimentação o cara vivia o tempo todo na rua, quase sempre sem dinheiro, como é comia eu mesmo muitas vezes pagava um feijão amigo no Tangará, almoço no antigo “Quarenta” (na Senador Dantas), me lembrei hoje do Sandália porque mexendo em uma mala antiga da minha ultima mudança encontrei uma bolsa, da minha última companheira e tinha uma sandália de mulher dentro, essa sandália foi comprada do Paulinho em 1996 ele só me entregou no começo de 2000 mesmo assim por que eu tomei na marra, Sandália tinha isso, recebia e só entrega anos depois, vi muita briga do Paulinho com nego que tinha comprado e não recebido, as vezes quase chegando a porrada, mas o cara com aquele jeito despreocupado cambaleante resolvia tudo e vendia mais uma sandália para o próximo encontro acompanhado de mais uma rodada do que se estivesse bebendo no momento, o cara tinha um jeito de convencimento que dobrava qualquer um, até os mais exaltados, com esse jeito conquistou uma consideração que nenhuma pessoa conseguiria.
Salve Sandália

3 comentários:

  1. Paulo Sabino,
    parabens,é muito bom lembrar dos amigos mesmo qdo nao estao mais aqui na terra, um abraço sua amiga Lia.

    ResponderExcluir
  2. Queria poder contar histórias assim. Parabens.

    ResponderExcluir
  3. Oi, qual não foi minha surpresa, quando, de repente, procurando uma coisa, achei outra, e melhor ainda, algo sobre Paulinho Sandália, meu querido amigo, nunca imaginei que teria algo em relação a ela na internet, até porque eu programei a missa de 1 ano da morte dele, divulguei, e aparecu meia dúzia de pessoas, e agora em outubro já se vão dois anos, obrigada, por não deixar a imagem dessa figura tão louca quanto amável e tão complexa como o Paulinho Sandália, cair no esquecimento... Saudades... Direi para a Conceição (mãe dele) que alguém o colocou no mundo dos imortais...

    ResponderExcluir